13 de Fevereiro
“Apesar do dólar estar nas máximas históricas, a probabilidade do BC entrar em ação permanece baixa”, apontam os estrategistas do Morgan, enquanto as expectativas de inflação permanecem baixas. O último Focus, divulgado na segunda-feira, reduziu de forma expressiva e pela sexta semana seguida a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2020, passando de 3,40% para 3,25%. “A sinalização das autoridades sugere que eles estão confortáveis com o dólar nos níveis atuais”, complementa a equipe do banco.
A última vez que o BC atuou mais fortemente foi em novembro de 2019. Na ocasião, o BC fez leilão de dólar em duas ocasiões apenas no dia 26 daquele mês, com a justificativa de que o real estava disfuncional e descolado de outras moedas. As intervenções se seguiram e, no dia 28, houve leilão à vista de US$ 1 bilhão, que ajudou a impulsionar a cotação do real em mais de 1% nas negociações intradiárias. Porém, por enquanto, os economistas não esperam uma atuação desta magnitude, uma vez que ela ocorreu, segundo a própria autoridade monetária, por conta da forte volatilidade da moeda.
Para o Credit, o que poderia fazer com que o dólar perdesse força no curto prazo, sendo negociado por volta do R$ 4,25, seria a mudança do discurso do Comitê de Política Monetária (Copom). Na avaliação do banco, apesar de ter cortado a Selic de 4,5% para 4,25% em reunião do último dia 5 de fevereiro, o Comitê indiciou menor flexibilidade na política monetária e fez com que os investidores interpretassem a mensagem como um fim do ciclo de cortes. A princípio, isso poderia levar a uma alta do real, já que os ganhos com carry trade, ainda que baixos, não diminuíram ainda mais.
Porém, com uma ata da reunião que ampliou os questionamentos sobre se o fim do ciclo realmente ocorrerá ou se há uma porta aberta para novos cortes (veja a análise completa clicando aqui), seguindo-se dos dados do IPCA de janeiro na sexta e de vendas no varejo abaixo do esperado nesta quarta, o real não encontra forças para subir. Nesta quarta, por exemplo, a moeda brasileira chegou a registrar o quarto pior desempenho entre os emergentes, mesmo com o alívio no exterior por conta dos menores temores sobre o coronavírus.
“O IPCA e vendas no varejo não permitiram a retirada total de apostas de novo corte da Selic este ano e este é um dos fatores que ajuda a manter o dólar em alta”, avalia o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, que segue com o alerta da possibilidade da moeda americana se aproximar dos R$ 4,40.
Para Faria, o real está proporcionalmente mais fraco na comparação com outras diversas moedas também por conta da ausência de maior fluxo para o país e pela fraqueza das commodities (com as cotações do petróleo e do minério de ferro sendo especialmente impactadas com o surto de coronavírus). “Assim, uma recuperação das commodities com algum fluxo adicional poderiam ser motivadores da queda do dólar”, avalia. No médio e no longo prazo, contudo, a tendência segue de alta para a moeda americana.
Além disso, Matheus Soares, analista da Rico Investimentos, ressalta em relatório que o fluxo de estrangeiro poderia voltar sem os juros altos caso o Brasil mostre forças para voltar a crescer. Desta forma, os últimos dados fracos da economia não ajudam na entrada do investidor de fora. “O mercado espera uma alta de 2,3% [do PIB] neste ano e 2,5% em 2021. O problema é que nos últimos anos o crescimento não veio como o esperado, e como o estrangeiro tem mais alternativas além do Brasil, ele só virá pra cá quando a economia crescer consistentemente”, afirma.
Enquanto isso, nos EUA, os dados de serviço e de indústria surpreenderam positivamente as estimativas do mercado, enquanto a temporada de resultados também aponta para um ambiente econômico saudável: quase 80% das empresas listadas no S&P500 reportaram seus números, sendo que cerca de 60% delas superaram o consenso de lucro.
Assim, a combinação do Brasil diminuindo juros sem apresentar crescimento expressivo (o que tirou a atratividade do real para o investidor estrangeiro), o fato dos EUA estarem mais atrativos em meio à economia mais forte e o “risco coronavírus” impactando emergentes faz com que o dólar siga em alta.
Somando-se isso à relativa tranquilidade do Banco Central em não atuar no câmbio, alinhado ainda ao discurso constante de que a alta da moeda americana não é reflexo da piora dos fundamentos da economia, corrobora a avaliação de que o dólar, mesmo que não suba, não encontrará tanto espaço para fortes baixas. O Credit, avalia que, caso a moeda americana volte para os R$ 4,25, essa pode ser uma boa oportunidade para ficar comprado, mostrando que os dias de dólar abaixo dos R$ 4,00 estão longe de retornar.
Fonte: Infomoney.